quarta-feira, 4 de agosto de 2010

BRASILEIROS POCOTÓS

O jumento e o cavalinho
eles nunca andam só
quando sai pra passear
evam a égua Pocotó
Pocotó, pocotó, pocotó
Minha egüinha Pocotó.

Luciano Pires, Diretor de Comunicação da Dana Corporation, é autor de um ótimo livro, do qual emprestei o título deste editorial, "Brasileiros Pocotós - Reflexões sobre a mediocridade que assola o Brasil" (Ed. Panda Books), em sua contracapa, ele escreve o seguinte:
"Você liga a televisão e não se conforma com o baixo nível da programação? Abre o jornal e só encontra notícias superficiais e sensacionalistas? Liga o rádio e parece estar ouvindo sempre a mesma música? Ruim? Chama um 'profissional' para fazer um conserto em sua casa e o resultado é um desastre? No trabalho, sente a solidão de não ter interlocutores? As conversas são rasas, os temas superficiais? Vê seus filhos decorando a mesma tabela periódica que você decorou anos atrás? Você tem a sensação de que o Brasil está ficando burro? Pois eu, sim! Daí este livro".
"Na terça-feira, dia 22/02, a Rede Globo recebeu 29 milhões de ligações do povo

brasileiro votando em algum candidato para ser eliminado do Big Brother.

Vamos colocar o preço da ligação do 0300 a R$ 0,30. Então, teremos R$ 8.700.000,00. Isso mesmo! Oito milhões e setecentos mil reais que o povo brasileiro gastou só nesse paredão. Suponhamos que a Rede Globo tenha feito um contrato meio a meio com a operadora do 0300, ou seja, ela embolsou R$ 4.350.000,00.
“Repito, somente em um único paredão...”.
Alguém poderia ficar indignado com a Rede Globo e a operadora de telefonia ao saber que as classes menos letradas e abastadas da sociedade, que ganham mal e trabalham o ano inteiro, ajudam a pagar o prêmio do vencedor e, claro, as contas dessas empresas. Mas o "x" da questão, caro(a) leitor(a), não é esse. É saber que se paga para obter um entretenimento vazio, que em nada colabora para a formação e o conhecimento de quem dela desfruta; mostra só a ignorância da população, além da falta de cultura e até vocabulário básico dos participantes e, conseqüentemente, daqueles que só bebem nessa fonte.

Certa está a Rede Globo. O programa BBB dura cerca de três meses. Ou seja, o sábio público tem ainda várias chances de gastar quanto dinheiro quiser com as votações. Aliás, algo muito natural para quem gasta mais de oito milhões numa só noite! Coisa de país rico como o nosso.

Nem o Unicef, quando faz o programa Criança Esperança com um forte cunho social, arrecada tanto dinheiro. Vai ver deveriam bolar um "BBB Unicef". Mas tenho dúvidas se daria audiência. Prova disso é que na Inglaterra pensou-se em fazer um Big Brother só com gente inteligente. O projeto morreu na fase inicial, de testes de audiência. A razão? O nível das conversas diárias foi considerado muito alto, ou seja, o público não se interessaria.
Programas como BBB existem no mundo inteiro, mas explodiram em terras tupiniquins. Um país onde o cidadão vota para eliminar um bobão (ou uma bobona) qualquer, mas não lembra em quem votou na última eleição do país.
Que simplesmente anula seu voto por não acreditar mais nos políticos deste País, mas que gasta seu escasso salário num programa que acredita de extrema utilidade para o seu desenvolvimento pessoal.
Que vota numa legenda política sem jamais ter lido o programa do partido, mas que não perde um capítulo sequer do BBB para estar bem informado na hora de PAGAR pelo seu voto.

Que eleitor é esse?
Depois não adianta dizer que político é corrupto. Quem os colocou lá?
Há uma frase de Robert Savage que diz: "Há mais pessoas dispostas a pagar para se entreter do que para serem educadas". E é verdade, a Globo sabe disso!
Quantas pessoas você conhece que desistiram de cursar uma faculdade porque acharam o preço muito alto?
Pergunte a uma criança quantos nomes de bichinhos de desenhos japoneses e funções das personagens de jogos de computador ela conhece. Você vai perder a conta.

Mas se perguntar quem foi Monteiro Lobato, como se escreve "exceção" ou quanto é seis vezes três, ela vai titubear.

Diz um ditado chinês: "Se você quer educar uma criança, comece pelos avós dela”.
Voltando ao parágrafo original desse editorial, o autor do livro comenta num dos primeiros capítulos o surgimento, há cerca de quarenta anos, do MNMB (Movimento Nacional pela Mediocrização do Brasil). Pois é, nem Stanislaw Ponte Preta e seu Febeapá (Festival de Besteira que Assola o País) imaginariam que a coisa iria piorar.
E piorou.
Sabe por quê? Porque o brasileiro quer.
Chega de buscar explicações sociais, coloniais, educacionais.

Chega de culpar a elite, os políticos, o Congresso.
Olhemos para o nosso próprio umbigo, ou o do Brasil.
Chega de procurar desculpas quando a resposta está em nós mesmos.
A Rede Globo sabe muito bem disso, os autores das músicas Egüinha Pocotó, O Bonde do Tigrão e assemelhadas sabem muito bem disso; o Gugu e o Faustão também; os gurus e xamãs da auto-ajuda idem.
Não é maldade e nem desabafo é constatação.
Pense bastante nisso, vai te fazer bem agora e certamente no teu futuro.
Boa meditação.

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